sexta-feira, 17 de outubro de 2008

INTRODUÇÃO

ESTE TRABALHO TEM A INTENÇÃO DE RELACIONAR A PERCEPÇÃO DO ARQUITETO ADOLF LOOS E A VISÃO DE LOUIS SULLIVAN SOBRE O ORNAMENTO NA ARQUITETURA MODERNA.
SABEMOS DA IMPORTÂNCIA QUE SULLIVAN TEVE PARA A CRIAÇÃO DA IDENTIDADE ARQUITETÔNICA DOS ESTADOS UNIDOS NO FIM DO SÉCULO XIX E INICIO DO XX. SUA ARQUITETURA RACIONALISTA FOI INTRODUZIDA NA CIDADE DE CHICAGO ONDE SEUS ARRANHA-CÉUS SÃO (SE TORNARAM) UM ÍCONE DA NOVA ARQUITETURA. EM SEUS EDIFÍCIOS AS ESTRUTURAS ESTEREOMÉTRICAS ACONTECEM EM OPOSIÇÃO À ORNAMENTAÇÃO. O ADORNO QUE APARECE EM SUAS FACHADAS É A JUSTA MEDIDA ENTRE A FORMA ORGÂNICA LIVRE E UMA GEOMETRIA PRECISA.
ADOLF LOOS, ATRAÍDO PELA ARQUITETURA NORTE-AMERINCA, FOI ATÉ O EXTREMO DO RACIONALISMO DEDUZINDO A FORMA A PARTIR DE QUESTÕES FUNCIONAIS. A ECONOMIA É UTILIZAR SOMENTE O NECESSÁRIO NA CONSTRUÇÃO, COMO TAMBÉM O “EMPREGO RACIONAL DO ESPAÇO.” (ARGAN, 1992, PÁG. 222). DENUNCIOU O ORNAMENTO COMO UM CRIME PARA A SOCIEDADE MODERNA POR FATORES SOCIAIS E ECONÔMICOS COMO VEREMOS A SEGUIR.

O ORNAMENTO PARA LOOS

ADOLF LOOS, ARQUITETO AUSTRÍACO NASCIDO EM 1870 E FALECIDO EM 1930, ENVOLVEU-SE COM REFLEXÕES POLÊMICAS SOBRE A CULTURA MODERNA, DISCUTINDO, ATRAVÉS DE TEXTOS E PUBLICAÇÕES, A LINGUAGEM DIFERENCIADA QUE A ARQUITETURA TEM (OU QUE DEVERIA TER) NO PERÍODO CLÁSSICO E NO VIVIDO POR ELE. FOI, POIS, UM DOS PIONEIROS DA ARQUITETURA MODERNA NÃO SÓ POR SEUS ESTUDOS E POSICIONAMENTOS ANTIDECORATIVOS, MAS TAMBÉM POR PASSAR DA TEORIA PARA PRÁTICA DESENVOLVENDO INOVAÇÕES PROJETUAIS, COMO O RAUMPLAN.
ESTE TRABALHO TEM INTUITO DE DISCORRER SOBRE AS QUESTÕES ORNAMENTAIS ABORDADAS POR ESTE ARQUITETO E POR LOUIS SULLIVAN, JÁ QUE RELATOS AFIRMAM QUE OS TRABALHOS DE SULLIVAN FORAM IMPORTANTES PARA A FORMAÇÃO DE LOOS.
O TEXTO ORNAMENTO E DELITO, ESCRITO POR LOOS E PUBLICADO EM 1908, TEVE A INTENÇÃO DE COLOCAR EM DISCUSSÃO O SENTIDO DO ORNAMENTO NA SOCIEDADE MODERNA. ESTE FOI TALVEZ UMA CRÍTICA QUE EXPRIME MELHOR SEU PENSAMENTO ANTIDECORATIVO PORQUE TRATOU A QUESTÃO DO ORNAMENTO COMO A PRINCIPAL VILÃ DA NOVA ARQUITETURA.
LOOS NÃO FOI O ÚNICO A TRATAR O TEMA DO ORNAMENTO, ESTE ASSUNTO JÁ ERA EXAUSTIVAMENTE DISCUTIDO NO INICIO DO SÉCULO XX. ELE FOI INFLUENCIADO PELA ARQUITETURA RACIONALISTA NORTE AMERICANA, MAIS PRECISAMENTE PELOS ESCRITOS DE LOUIS SULLIVAN (ARQUITETO NORTE-AMERICANO, 1856-1924) EM ENSAIOS SOBRE O ORNAMENTO NA ARQUITETURA (ORNAMENT IN ARCHITECTURE – 1892) E ADMIROU OS TRABALHOS DE SEUS SEGUIDORES COMO ELMSLIE, GRIFFIN E WRIGHT.
SE VERIFICARMOS NOS DICIONÁRIOS, ORNAMENTO É DEFINIDO COMO:

ORNAMENTO:
[DO LAT. ORNAMENTU.] S. M. 1. ORNAMENTAÇÃO. 2. AQUILO QUE ORNAMENTA OU ORNA; ORNATO, ADORNO: OS ORNAMENTOS GÓTICOS. 3. FIG. FLOREIO DE ESTILO; ATAVIO: OS ORNAMENTOS DE UM DISCURSO. 4. FIG. PESSOA EMINENTE EM UMA CLASSE, INSTITUIÇÃO, ARTE, ETC.: É UM DOS ORNAMENTOS DA NOSSA TRIBUNA. 5. MÚS. NOTA OU GRUPO DE NOTAS RÁPIDAS QUE EMBELEZAM DETERMINADA MELODIA; ORNATO. [OS MAIS COMUNS SÃO: ACICATURA, APOJATURA, FLOREIO, GRUPETO, MORDENTE, PORTAMENTO, TRINADO.] ~ V. ORNAMENTOS. (FERREIRA, 1986, PÁG. 1233)

A PARTIR DESSES SIGNIFICADOS É POSSÍVEL APREENDER QUE ORNAMENTO PODERIA SER UMA PARTE DO EDIFÍCIO QUE NÃO REALIZA UMA FUNÇÃO IMPORTANTE EM SUA CONSTITUIÇÃO A NÃO SER A DE DECORÁ-LO OU EMBELEZÁ-LO. DESSE MODO, SEM O ORNAMENTO O EDIFÍCIO NÃO PERDERIA SUA FUNÇÃO E RAZÃO ESSENCIAL: A DE SER ÚTIL – SE TIRAMOS AS VOLUTAS DE UM CAPITEL DE ORDEM JÔNICA, A COLUNA CONTINUARIA EXERCENDO FUNÇÃO ESTRUTURAL, PORÉM SEM O SIGNIFICADO SIMBÓLICO QUE REMETE ÀQUELE TIPO DE SOCIEDADE, DE UMA DETERMINADA ÉPOCA, QUE REVERENCIAVAM ÀQUELES VALORES.
DIRIA QUE NOS SÉCULOS ANTERIORES AO XIX OS EDIFÍCIOS REALMENTE NECESSITAVAM DE CERTA MARCA PARA QUE SE REALÇASSE SUA FUNÇÃO SOCIAL. NESSE CASO, O ORNAMENTO SERIA O ELEMENTO RESPONSÁVEL POR ATRIBUIR UM SENTIDO DE RECONHECIMENTO, OU REAFIRMAÇÃO. CONTUDO, NA SOCIEDADE MODERNA, ESSE RECONHECIMENTO ESTARIA EMBUTIDO NO DESENHO DO EDIFICO, QUE NÃO É VISTO POR UM ELEMENTO QUE FLOREIA, E SIM POR FATORES VARIADOS, COMO POR EXEMPLO O USO DE UMA DETERMINADA TÉCNICA CONSTRUTIVA, A EXPLORAÇÃO DE MATERIAIS E OU DE SUPERFÍCIES SIMPLES. MUDA-SE A SOCIEDADE, MUDAM-SE OS VALORES.
PARA LOOS, A BELEZA DA ARQUITETURA MODERNA ESTÁ TANTO NA QUALIDADE TÉCNICA DO EDIFÍCIO QUANTO NA FORMA FUNCIONAL, OS MATERIAIS NOBRES PODEM SUBSTITUIR A FALTA DE DECORAÇÃO POR ISSO, SE O EDIFÍCIO VALORIZA OS BONS MATERIAIS, ELE É BELO. QUANDO A BELEZA ESTÁ NA FORMA FUNCIONAL, A VEMOS PELA SIMPLICIDADE: QUANTO MAIS PURA E SIMPLES DE FORMA, MAIS SE PODE CONHECER O QUE É ESSENCIAL AO OBJETO.

“(...) LOOS PUDO CREAR SÓLO PORQUE ESTABA PERSUADIDO DE QUE EL FIN DE LA HUMANIDAD ES EL DE HACER CRISTALIZAR LA BELLEZA EM LA FORAM FUNCIONAL EM LUGAR DE HACERLA DEPENDER DE LA DECORACIÓN.” ( ZEVI, 1954, PÁG. 116)

“QUANTO MAIS BAIXO É O NÍVEL DO POVO MAIS EXUBERANTE É A ORNAMENTAÇÃO. A ASPIRAÇÃO DA HUMANIDADE É, PELO CONTRÁRIO, DESCOBRIR A BELEZA NAS FORMAS, EM VEZ DE FAZER DEPENDER DA ORNAMENTAÇÃO.” (PEVSNER, 1980, PÁG. 35)

EM SEU TEXTO ORNAMENTO E DELITO, ELE FAZ UMA ARGUMENTAÇÃO PARA EXPLICAR A EXISTÊNCIA DO ORNAMENTO NAS SOCIEDADES NÃO EVOLUÍDAS UTILIZANDO O SERVIÇO DO SAPATEIRO PARA SE REFERIR AO ARTESÃO. DIZ QUE SE OFERECERMOS UMA QUANTIA MAIOR PELA PRODUÇÃO DO SEU SAPATO E, AO MESMO TEMPO, PEDIRMOS UM SAPATO LISO, ELE FICARIA FELIZ, PORÉM TRISTE, PORQUE ESTAMOS O INCENTIVANDO À MEDIDA QUE ACRESCENTAMOS VALOR AO SEU TRABALHO E O DESMOTIVANDO QUANDO O PRIVAMOS DE SEU PRAZER.
O SAPATEIRO ENCONTRA O PRAZER NA AÇÃO DE ADORNAR JÁ QUE NÃO TEM ACESSO A OUTRO TIPO DE LAZER. ELE REPRESENTA A CLASSE BAIXA DA SOCIEDADE.

“MEUS SAPATOS SÃO COMPLETAMENTE COBERTOS POR ORNAMENTOS CONSTITUÍDOS DE PONTAS E FUROS. TRABALHO QUE O SAPATEIRO REALIZOU, QUE NÃO LHE FOI PAGO. VOU AO SAPATEIRO E LHE DIGO:" VOCÊ PEDE POR UM PAR DE SAPATOS TRINTA COROAS. EU VOU PAGAR QUARENTA COROAS." COM ISSO EU LEVEI ESSE HOMEM A SEU ESTADO ANÍMICO DE FELICIDADE, QUE ELE VAI ME AGRADECER ATRAVÉS DE TRABALHO E DE MATERIAL, QUE DE TÃO BOM NÃO TEM NENHUMA RELAÇÃO COM O EXCEDENTE. ELE É FELIZ. RARAMENTE ENTRA NA SUA CASA A FELICIDADE. AQUI ESTÁ UM HOMEM DEFRONTE A ELE, QUE O ENTENDE, QUE APRECIA SEU TRABALHO E QUE NÃO DUVIDA DA SUA HONESTIDADE. PENSATIVO JÁ AVISTA OS SAPATOS ACABADOS EM FRENTE DELE. SABE ONDE ENCONTRAR ATUALMENTE O MELHOR COURO, SABE A QUAL TRABALHADOR CONFIAR OS SAPATOS E OS SAPATOS VÃO TER PONTAS E FUROS, TANTOS, QUE SÓ CABERIAM EM CIMA DE UM SAPATO ELEGANTE. E ENTÃO EU DISSE: "MAS PONHO UMA CONDIÇÃO. O SAPATO TEM QUE SER COMPLETAMENTE LISO”. AÍ O ATIREI DE SEU MAIOR ESTADO ANÍMICO DE FELICIDADE PARA O TÁRTARO.10 ELE TEM MENOS TRABALHO MAS EU TOMEI TODO O SEU PRAZER.” (IN: WWW.EESC.USP.BR/BABEL, 2001-2002.)

ENTRETANTO, ELE TRATOU A QUESTÃO DO ORNAMENTO NÃO SÓ QUANTO AOS VALORES ESTÉTICOS, MAS TAMBÉM COMO UM VIÉS PARA ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE. SUA BATALHA TRAVADA CONTRA O ORNAMENTO TERIA UM MOTIVO CIVILIZATÓRIO, OU SEJA, O ORNAMENTO É VISTO POR LOOS COMO PRINCIPAL EXEMPLO DE SUBMISSÃO AO PASSADO ANTIGO.

“A VONTADE DE ORNAMENTAR SEU ROSTO E TUDO QUE ESTÁ AO ALCANCE, É A ORIGEM DAS ARTES PLÁSTICAS. É O BALBUCIAR DA PINTURA.” (IN: WWW.EESC.USP.BR/BABEL, 2001-2002.)

DESSA FORMA, ADORNAR-SE E ADORNAR TODOS OS OBJETOS TANGÍVEIS É PRINCIPIO PRIMITIVO DA ARTE FIGURATIVA O QUE NOS APROXIMA DAS SOCIEDADES BÁRBARAS. PARA NOS CIVILIZAR, DEVERÍAMOS NOS DESINTOXICAR DO ADORNO, DO ORNATO, LIBERTANDO O HOMEM E FAZENDO-O “ENXERGAR MELHOR”. ESSA DESINTOXICAÇÃO SERIA O IMPULSO QUE NOS LEVARIA AO CAMINHO DA EVOLUÇÃO CULTURAL, DESVINCULANDO-NOS DE CONCEPÇÕES PASSADAS, ANTIGAS, E ENTÃO, INADEQUADAS À SOCIEDADE MODERNA.

“PODE-SE MEDIR A CULTURA DE UM PAÍS PELO GRAU DE PICHAÇÃO DAS PAREDES DOS BANHEIROS PÚBLICOS.” (IN:
WWW.EESC.USP.BR/BABEL, 2001-2002)

PARA LOOS, O ATO DE PICHAÇÃO É PRIMITIVO E CRIMINOSO SE FOR FEITA PELO HOMEM EVOLUÍDO. RELEMBRA IMPULSOS FIGURATIVOS INGÊNUOS DE UMA CRIANÇA MOTIVADA PELO SEU PRÓPRIO ÍMPETO, POR EXEMPLO. A CIVILIZAÇÃO QUE TEM SEUS BANHEIROS PICHADOS, NO CASO, SERIAM AQUELAS QUE POSSUEM MODOS DE SE EXPRESSAR AINDA NÃO EVOLUÍDOS.
AO COMPARAR O COMPORTAMENTO DO HOMEM PRIMITIVO (O PAPUA EM SEU TEXTO ORNAMENTO E DELITO) COM O DO MODERNO ELE PROVA QUE A DISTÂNCIA ENTRE OS DOIS NÃO ESTÁ SOMENTE NO TEMPO, E SIM NO NÍVEL DE EVOLUÇÃO DA CULTURA. AS DIFERENÇAS CULTURAIS DELES REFLETEM UMA DETERMINADA REALIDADE E QUE CORRESPONDE UMA LINGUAGEM ARQUITETÔNICA.

“ENCONTREI A SEGUINTE COMPREENSÃO E OFERECI AO MUNDO: EVOLUÇÃO DA CULTURA É EQUIVALENTE À RETIRADA DE ORNAMENTOS DOS OBJETOS USUAIS. ACREDITAVA, ASSIM, TRAZER NOVAS ALEGRIAS AO MUNDO; ELE NÃO ME AGRADECEU.” (IN:
WWW.EESC.USP.BR/BABEL, 2001-2002)

O SIMPLES FATO DA EXISTÊNCIA DO ORNAMENTO NA ARQUITETURA MODERNA É UM ABSURDO JÁ QUE NESSE NÍVEL DE EVOLUÇÃO INTELECTUAL, O “ESTILO”, AQUILO QUE SE LIGA AO PASSADO CLÁSSICO, É ALGO ULTRAPASSADO. O CORRETO SERIA COMPREENDER QUE O ORNAMENTO NÃO É MAIS EXPRESSÃO DA NOSSA CULTURA, E QUE PARA TANTO, CONVÊM-NOS DESLIGAR-NOS DESTE PARA QUE POSSAMOS NOS DESENVOLVER.
SEGUNDO LOOS, SERIA TOTALMENTE INADEQUADO, PORTANTO, SE O HOMEM INSISTISSE EM UTILIZAR O ORNAMENTO NA SOCIEDADE MODERNA. SE ASSIM O FIZESSE OS OBJETOS PERDERIAM SUA CONSCIÊNCIA EM SI, IMPEDINDO QUE O HOMEM VISSE COM CLAREZA E DOMINASSE O TODO. POR OUTRO LADO, A MAIOR DIFICULDADE SERIA CONCORDAR O RITMO DA MODERNIDADE COM A TÉCNICA PRIMITIVA E ARTESANAL DO TRABALHO ORNAMENTAL. O TEMPO DE TRABALHO CONSUMIDO PARA PRODUZIR UMA PEÇA ORNAMENTADA NÃO CORRESPONDE À RAPIDEZ DA ERA DA MÁQUINA. ISSO SERIA UMA FORMA DE ESCRAVIDÃO ARTESÃ.
O PROBLEMA QUE MAIS O INCOMODA SERIA O DESPERDÍCIO DE OBRA E MATERIAIS QUE O ORNAMENTO CAUSA. POR ISSO O DENUNCIA COMO CRIME. PORQUE ELE PESA NO ORÇAMENTO DA CONSTRUÇÃO.

“OS PROBLEMAS SOCIAIS SE COLOCAM EM TERMOS DE ECONOMIA E TÉCNICA.” (ARGAN, 1992, PÁG. 222)

COMO NEGA A ORNAMENTAÇÃO, LOOS DEDUZ A FORMA A PARTIR DE QUESTÕES FUNCIONAIS. A ECONOMIA EM QUESTÃO É UTILIZAR SOMENTE O NECESSÁRIO NA CONSTRUÇÃO, COMO TAMBÉM O “EMPREGO RACIONAL DO ESPAÇO.” (ARGAN, 1992, PÁG. 222)
UMA DE SUAS OBRAS QUE MAIS REPRESENTAM SEU RACIONALISMO É A CASA STEINER, CONSTRUÍDA EM VIENA EM 1910. ELA TEM UMA PROPOSTA PURISTA QUE REPUDIA OS ESTILOS DO PASSADO. POSSUI UMA ORGULHOSA REDUÇÃO DOS MEIOS EXPRESSIVOS A MAIS DESNUDA ESSENCIALIDADE
[1]. RESUMIR-SE-IA A UM PRISMA BRANCO E SEM ADORNOS SE NÃO TIVESSE FORMULADO E INCORPORADO EM SEU PROJETO UMA DETERMINADA ESTRATÉGIA ARQUITETÔNICA: O RAUMPLAN.
ESTE ARTIFÍCIO PODE SER RESUMIDO EM UM DESLOCAMENTO DOS NÍVEIS DE SUAS PLANTAS, NÃO SÓ PARA CRIAR UM MOVIMENTO ESPACIAL, MAS TAMBÉM PARA DIFERENCIAR UMA ZONA DE MORADIA DA OUTRA. DO RAUMPLAN SURGIU O “PLAN DE VOLÚMENES” (FRAMPTON, 1991, PÁG. 95) QUE SERIA UM COMPLETO SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO INTERNA QUE CULMINOU NAS CASAS DE NÍVEL PARTIDO.

“(...) NA CASA SEINER, VIENA, ATINGIU DE MODO INTEGRAL E SEM QUAISQUER LIMITAÇÕES O ESTILO DE 1930. O CONTRASTE VIOLENTO ENTRE O CENTRO RECUADO E AS ALAS SALIENTES, A LINHA CONTÍNUA DOS TELHADOS, AS PEQUENAS ABERTURAS DA ÁGUA-FURTADA, AS JANELAS HORIZONTAIS DE GRANDES CAIXILHOS ÚNICOS, TUDO ISTO SÃO ELEMENTOS QUE QUALQUER PESSOA NÃO INFORMADA JULGARIA MUITO POSTERIORES. APESAR DESSE ESTILO TÃO ISENTO DE COMPROMISSOS, A INFLUÊNCIA DE LOOS POUCO SE FEZ SENTIR DURANTE MUITO TEMPO. TODOS OS OUTROS PIONEIROS FORAM MUITO MAIS RECONHECIDOS E IMITADOS.” (PEVSNER, 1980, PÁG. 222)

CASA STEINER, VIENA, 1910.
FONTE:
WWW.STUDIOACME.IT/SITOACME/VARIE/LINKS.HTML

CASA STEINER, VIENA, 1910
FONTE:
WWW.ARTEHISTORIA.JCYL.ES/HISTORIA/OBRAS/16983.HTM

[1] Trecho traduzido por Elisa Azevedo Ribeiro “(...) de una orgullosa reducción de los medios expresivos a la más desnuda esencialidad (…)” presente no livro Historia de la arquitectura moderna de Bruno Zevi.

O ORNAMENTO NA ARQUITETURA DE SULLIVAN

COMO FOI DITO NO COMEÇO DO TRABALHO, A DISCUSSÃO SOBRE O SENTIDO DO ORNAMENTO NA ARQUITETURA JÁ ERA TEMA E PREOCUPAÇÃO DE ALGUNS ARQUITETOS DO INICIO DO SÉCULO XX, DENTRE ELES LOUIS SULLIVAN. CRIADOR DO TEXTO ORNAMENT IN ARCHITECTURE (1892), ELE QUE FOI UMA DAS INFLUÊNCIAS ENCONTRADAS POR ADOLF LOOS DURANTE SUAS IDAS AOS ESTADOS UNIDOS.
SULLIVAN FOI UM REPRESENTANTE DA ARQUITETURA RACIONALISTA NORTE-AMERICANA PELO QUAL LOOS HAVIA SE INTERESSADO E INCORPORADO EM SUA ARQUITETURA ALGUMAS DAS CARACTERÍSTICAS, COMO O GOSTO PELA HORIZONTALIDADE, O AMOR PELA UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS NATURAIS NOS INTERIORES, O CONTRASTE ENTRE AS ESTRUTURAS DE MADEIRA E AS PARTES ENGESSADAS DE BRANCO DOS ARTESONADOS, E SOBRE TUDO, UMA ARTICULADA CONCEPÇÃO ESPACIAL LIVRE E VISUALMENTE RICA.

“DURANTE SUA ESTADIA NOS EUA, DE 1893 A 1896, LOOS ENTROU EM CONTATO COM ARQUITETOS COMO LUIS SULLIVAN E ROOT, PARA QUEM O FALSO USO DOS MATERIAIS E O EXCESSIVO USO DO ORNAMENTO ERA UM CRIME E A RENÚNCIA À DECORAÇÃO POSSIBILITARIA QUE A ARQUITETURA ENCONTRASSE SUA EXPRESSÃO PRÓPRIA.” (ARQUITETURA ANTES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, SITE http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/6486_4.PDF?NrOcoSis=17967&CdLinPrg=pt)

TALVEZ SUA ATRAÇÃO PELOS ESTADOS UNIDOS FOI DEVIDO À POSSIBILIDADE DE NOVAS CRIAÇÕES ARQUITETÔNICAS VINCULADO A UMA FORTE LIBERDADE PRODUTIVA QUE POSSIVELMENTE LEVARIA O PAÍS AO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO/POLÍTICO/INTELECTUAL MAIS ACELERADO. ESTE PAÍS, AO CONTRARIO DOS PAÍSES DA EUROPA, POSSUÍA RAÍZES CULTURAIS NÃO TÃO PROFUNDAS E QUE PORTANTO NÃO ESTAVAM PRESAS AO PASSADO.
SULLIVAN, O ARQUITETO DOS ARRANHA-CÉUS, FOI UM DOS ARQUITETOS INTERESSADOS EM COMPREENDER O SIGNIFICADO E AS CONSEQÜÊNCIAS QUE A MÁQUINA IMPLICAVA PARA AS RELAÇÕES ENTRE A ARQUITETURA E A DECORAÇÃO.

“(...) EM 1892, SULLIVAN DIZIA JÁ EM ORNAMENT IN ARCHITECTURE QUE “DO PONTO DE VISTA ESPIRITUAL A DECORAÇÃO É UM LUXO E NÃO UMA NECESSIDADE”, E QUE “SERIA UM GRANDE BEM PARA A NOSSA ESTÉTICA QUE NOS ABSTIVÉSSEMOS TOTALMENTE DO EMPREGO DA DECORAÇÃO DURANTE ALGUNS ANOS, A FIM DE QUE O NOSSO PENSAMENTO SE PUDESSE CONCENTRAR PROFUNDAMENTE NA PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS QUE, NA SUA NUDEZ, FOSSEM ESBELTOS E BEM FORMADOS”. (PEVSNER, 1980, PÁG. 33)

A ANÁLISE FEITA PELO AUTOR NIKOLAUS PEVSTER NO LIVRO OS PIONEIROS DO DESENHO MODERNO DE WILLIAM MORRIS A WALTER GROPIUS SOBRE O ESTILO ORNAMENTAL DA ARQUITETURA DE SULLIVAN CONSIDERA QUE: “OS MOTIVOS ORNAMENTAIS DE SULLIVAN ERAM DO TIPO CONHECIDO POR ART NOUVEAU” (PEVSNER, 1980, PÁG. 34). ENTRETANTO, OUTROS AUTORES COMO FRAMPTON ABORDAM O TEMA DECORATIVO DESTE ARQUITETO DE OUTRA MANEIRA.
PARA KENNETH FRAMPTON NO LIVRO HISTORIA CRÍTICA DE LA ARQUITECTURA MODERNA O ESTILO ORNADO DE SULLIVAN NADA TINHA HAVER COM O ART NOUVEAU, TERIA SIM UM OUTRO DESENHO, INFLUENCIADO PELO ISLÂMICO. A LINGUAGEM DA ARQUITETURA DE SULLIVAN ERA APROPRIADA PARA A ESTRUTURA DE GRANDE PORTE DOS SEUS ARRANHA-CÉUS. A ORNAMENTAÇÃO ACONTECIA DE MANEIRA PROPORCIONAL E COM VITALIDADE ACOMPANHANDO A GEOMETRIA DO EDIFÍCIO.

“NO OBSTANTE, EN CONTRASTE CON EL FLUIDO ORNAMENTO DE WAGNER, SIEMPRE HAY UM TOQUE DECIDIDAMENTE ISLÁMICO EN LA DISPOSICIÓN DE SULLIVAN RESPECTO A LA DECORACIÓN” (FRAMPTON, 1991, PÁG. 54)

A VISÃO QUE FRAMPTON IMPRIME SOBRE AS CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS DE SULLIVAN SÃO MAIS ADEQUADAS QUANDO FAZEMOS UMA ANÁLISE DE SUAS OBRAS. PERCEBEMOS QUE A FACHADA DE ALGUNS DE SEUS EDIFÍCIOS EXPLORA UMA DISTINTA REPARTIÇÃO TRÊS VOLUMES (A BASE DE PEDRA, O VEIO E O CAPITEL) COMO EM UMA COLUNA CLÁSSICA QUE NASCE DO SOLO E TERMINA BRUSCAMENTE EM UMA CORNIJA MACIÇA E COMPLETAMENTE ADORNADA COM UM MATERIAL CHAMADO TERRACOTA.
ESSA LEITURA DO TRIPARTIDO É VISTA COM CLAREZA NO EDIFICO WAINWRIGHT BUILDING (ST. LOUIS, MISSOURI, 1890-91).


O CARÁTER DA ORNAMENTAÇÃO DE SULLLIVAN ALTERNA ENTRE O ACHADO ORGANICAMENTE LIVRE E CONFORMA-SE COM O PERFIL DE UMA GEOMETRIA PRECISA. O USO DE MATERIAIS COMO A PEDRA APARENTEMENTE LAVRADA ENFATIZAM ESTA QUALIDADE ORGÂNICA DE SUA ARQUITETURA.
DA MESMA MANEIRA COM QUE O PENSAMENTO DE SULLIVAN SOBRE A NUDEZ DOS EDIFÍCIOS FOI REVOLUCIONÁRIO E ESTÁ PRESENTE NAS FACHADAS DOS SEUS PRÓPRIOS EDIFÍCIOS ATRAVÉS DAS SUPERFÍCIES SIMPLES E TRANSPARENTES, A SUA CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA DECORAÇÃO TAMBÉM O FOI. NAS FACHADAS DOS SEUS ARRANHA-CÉUS A DECORAÇÃO ERA QUEM A MODULAVA E A DEFINIA EM RELAÇÃO À LUZ.
SE POR UM LADO LOOS REPUDIA TOTALMENTE A PRESENÇA DO ORNAMENTO NA ARQUITETURA MODERNA, DEVIDO A SUAS EXPLICAÇÕES DE CUNHO SOCIAIS E ECONÔMICAS, SULLIVAN VÊ O ATO DE ADORNAR DE OUTRA MANEIRA. ELE ACREDITA QUE O ORNAMENTO DE UM EDIFÍCIO MODERNO PODE EXISTIR, MAS DIFERENTEMENTE DAQUELE CLÁSSICO.
PARA SULLIVAN, O ORNAMENTO CLÁSSICO NADA TEM HAVER COM O QUE ELE UTILIZA EM SEUS EDIFÍCIOS PORQUE ELE COMPETE COM AS PROPOSTAS ARQUITETÔNICAS DESSA NOVA ARQUITETURA, QUE ANSEIA MOSTRAR SUAS NOVAS TÉCNICAS, MATERIAIS E O NOVO MODO DE VIDA. ELE TENTA ENCONTRAR A JUSTA MEDIDA ENTRE A FORMA ORGÂNICA LIVRE E A GEOMETRIA PRECISA PARA QUE O ORNAMENTO REALCE A EDIFICAÇÃO.
O FATO DE ACREDITAR QUE EXISTE UM NOVO TIPO DE ORNAMENTAÇÃO PARA A NOVA ARQUITETURA DO SÉCULO XX NÃO DESVINCULA SULLIVAN TOTALMENTE DE LOOS, JÁ QUE AMBOS PENSAVAM QUE HAVIA A NECESSIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA TÉCNICA MODERNA E INOVADORA PARA A NOVA ERA, A ERA DA MAQUINA, DA PRODUÇÃO EM MASSA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ESTE TRABALHO PRETENDE REALIZAR UMA BREVE ANÁLISE SOBRE O ORNAMENTO NOS PIONEIROS DA ARQUITETURA MODERNA, ATRAVÉS DOS PENSAMENTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DE ADOLF LOOS E DA ABORDAGEM ARQUITETÔNICA DE LOUIS SULLIVAN EM SEUS ARRANHA-CÉUS NORTE-AMERICANOS.
A PARTIR DO ESTUDO DO TEXTO ORNAMENTO E DELITO (ESCRITO POR LOOS, 1908) COMPLETANDO COM UMA ANÁLISE DE OUTROS TEÓRICOS DE ARQUITETURA, COMPREENDEMOS QUE O ORNAMENTO FOI ENTENDIDO POR LOOS COMO UMA DELINQÜÊNCIA PARA A SOCIEDADE MODERNA E QUE DEVERIA SER EXCLUÍDA DA NOVA ARQUITETURA. ELE CONSIDERAVA QUE O ATO DE ADORNAR REMETE ÀS SOCIEDADES MENOS EVOLUÍDAS, E PORTANTO, ANTIGAS, QUE ENCONTRAM A PARTIR DISSO SEU MEIO DE EXPRESSÃO, E A NOVA ARQUITETURA DEVE SE DESVINCULAR DESSE PASSADO PARA CRIAR SEU PRÓPRIO ESTILO.
ENQUANTO LOOS REPUDIA TOTALMENTE O USO DE ORNAMENTO DA ARQUITETURA MODERNA, SULLIVAN O EXPLORA DE MANEIRA HARMÔNICA COM SUAS EDIFICAÇÕES, ENTRETANTO DESVINCULADO DO SENTIDO DO ORNAMENTO CLÁSSICO. EM SEUS EDIFÍCIOS AS ESTRUTURAS ESTEREOMÉTRICAS ACONTECEM EM OPOSIÇÃO À ORNAMENTAÇÃO. O ADORNO QUE APARECE NAS FACHADAS É A JUSTA MEDIDA ENTRE A FORMA ORGÂNICA LIVRE E UMA GEOMETRIA PRECISA.

BIBLIOGRAFIA

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna / Giulio Carlos Argan: tradução Denise Bottmann e Federico Carotti. – São Paulo : Companhia das Letras, 1992.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio. Editora Nova Fronteira, 1986.

FRAMPTON, Kenneth. Historia crítica de la arquitectura moderna. Editora Gustavo Gilli, S. A., Barcelona, 1987. Quinta edição 1991.

LOOS, Adolf. “Ornamento e Delito”, 1908. In: www.eesc.usp.br/babel. Tradução de Anja Pratschke, 2001-2002.

PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: de Willian Morris a Walter Gropius. Tradução João Paulo Monteiro. – São Paulo: Martins Fontes, 1980.

ZEVI, Bruno. Historia de la arquitectura moderna. Editora: Emecé editores, S. A. – Buenos Aires, 1954.


Sites:

www.eesc.usp.br/babel

http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/6486_4.PDF?NrOcoSis=17967&CdLinPrg=pt